BOTSWANA: Não há refúgio ao HIV/Sida no campo de Dukwi

Photo: UNHCR/Geographic Information and Mapping Unit  |
Refugiados excluídos do tratamento antiretroviral |
DUKWI, 29 Junho 2006 (PlusNews) - O campo de refugiados de Dukwi estende-se por 20 quilómetros quadrados, ao longo da estrada entre Francistown, a segunda cidade do Botswana, e a fronteira com a Zâmbia a norte, mas pouco revela que ali vivem três mil pessoas de 14 países, a maioria de Angola, Somália, e Namíbia.
As pequenas casas em tijolo misturadas com barracas e palhotas podem parecer temporárias, mas já existem há 30 anos. Algumas pessoas criaram os seus filhos e até netos em Dukwi.
Os seus habitantes têm autorização para viver fora do campo, enquanto tem empregos temporários. Misturam-se, e às vezes casam, com pessoas das aldeias vizinhas.
A desvantagem desta liberdade de movimento é que os refugiados tornam-se tão vulneráveis ao HIV como qualquer pessoa do país com uma taxa de prevalência entre adultos de 37 por cento.
Naturais da Faixa do Caprivi, no nordeste da Namíbia, Vistor Moukweloi e namorada encontraram asilo no Botswana, há oito anos. A namorada morreu, em 2003, duma doença descrita como ‘diarreia’. Moukweloi adoeceu, em 2005, e descobriu que era seropositivo.
Mas ele não tem nenhum direito legal ao tratamento antiretroviral (ARV). Para os nacionais, está disponível há quatro anos.
O Botswana é o único país da África austral que explicitamente exclui os refugiados do seu programa nacional de tratamento. A África do Sul, Zâmbia e Namíbia dão ARVs aos refugiados. Outros países da região providenciam ARVs de forma não oficial.
Quando o Botswana, eventualmente, seguir a politica regional, será demasiado tarde para muitos dos residentes de Dukwi.
Pelo menos 23 das 54 mortes ocorridas no campo em 2005 foram causadas por doenças relacionadas com o HIV/Sida, disse o coordenador do programa de cuidados domiciliários da Cruz Vermelha do Botswana, Eric Letshwiti.
“Quando ficam muito, mesmo muito doentes, os patrões despacham-nos de volta para aqui, demasiado tarde para se fazer alguma coisa,” disse.
Quando Moukweloi regressou ao campo, no princípio deste ano, estava desesperado: “Eu não sabia nada...só esperava ser transferido para a Zona 10 [nome que os residentes deram ao cemitério local].”
Incluir os excluídos
Em Março deste ano, o Bispo de Francistown, Frank Atese Nubuasah, ofereceu 13 lugares para os refugiados num programa de ARV da Conferência de Bispos Católicos da África Austral, para os excluídos do esquema estatal.
Moukweloi é um dos cinco residentes do campo já em tratamento. Outras oito pessoas começarão logo que necessitarem.
Segundo a coordenadora do projecto da Cruz Vermelha em Dukwi, Boitumelo Segwabanyane, o nível de estigma em relação ao HIV é tão grande que até mesmo a possibilidade do tratamento não convence muitos dos refugiados ao teste voluntário.
“Os mitos ainda continuam aqui,” disse ela, apesar duma iniciativa de educação sobre o HIV/Sida, financiada pelas Nações Unidas, realizada no ano passado.
A crença de que a bruxaria pode causar a Sida, e que a medicina tradicional a pode curar, impede as pessoas de irem à clínica fazer o teste. Outra crença é de que os próprios preservativos transportam o vírus.
A variedade de línguas e culturas que co-existem no campo é outro problema.
“Nós temos intérpretes, mas, às vezes, há a necessidade de conversar um a um e é ai que se torna difícil”, disse Letshwiti.
No futuro, um projecto financiado pelo Plano de Emergência do Presidente George Bush para o Alívio da Sida produzirá mensagens de prevenção destinadas às suas culturas e línguas específicas.
Entretanto, disse Segwabayane, “É difícil penetrar nessas comunidades. Os somalis, em particular, não participam em nenhum programa educativo, porque a sua cultura os impede de falar sobre a vida sexual”.
Juweria Daud, uma das poucas naturais da Somália voluntarias ao treino de HIV na Cruz Vermelha, observou que “a maioria dos somalis não acredita no HIV/Sida ou acredita que só podes apanhar através de “comportamento sexual ilegal”, e só as mulheres é que fazem o teste quando estão grávidas e depois ficam com muito medo de contar aos seus maridos.”
Grávidas sem tratamento
De acordo com os dados da clínica, apenas 11 refugiados até agora fizeram o teste voluntário este ano. Outros 100 fizeram como parte da política tswana de testagem rotineira, da qual não se pode prescindir. O pessoal da clínica não revelou quantos eram positivos.
As mulheres seropositivas grávidas não têm aceso à prevenção da transmissão de HIV da mãe para o filho. Alegando falta de recursos, o governo, em 2004, parou de providenciar drogas anti-Sida às mulheres grávidas refugiadas.
O pessoal da clínica e da Cruz Vermelha apenas pode ensina-las sobre os perigos da amamentação e oferecer leite em pó para bebés.
A coordenadora regional de HIV/Sida na Agência das Nações Unidas para os Refugiados, Laurie Burns, considera o programa do Bispo “uma fantástica solução de curto prazo”, mas não substitui a mudança da política nacional.
Ela observou que o argumento do governo sobre a criação dum ‘factor atraente´ para os que procuram asilo não funciona, uma vez que a maioria dos países na região agora têm programas de tratamento.
Considerando o número reduzido de refugiados seropositivos, Burns duvida que o custo do tratamento seja proibitivo.
A repatriação voluntária é uma opção para os refugiados HIV+, mas o processo é muito demorado para os que estão muito doentes; outros não querem regressar aos países em conflito.
Moukweloi sente-se aliviado por ter evitado esta decisão difícil. Para a surpresa de todos que não estão acostumados a ver as pessoas a recuperarem da doença que não dão nome, a sua saúde melhorou rapidamente desde que começou com o tratamento ARV.
“As pessoas ficam surpreendidas quando me vêem assim com tão bom aspecto,” diz sorridente. “Dantes aconselhavam-me a poupar a farinha de milho para o meu funeral”.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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