MADAGÁSCAR: Não se pode ceder contra a Sida

Photo: Lee Middleton/IRIN  |
As barreiras naturais não são suficientes para evitar a Sida |
ANTANANARIVO, 1 Fevereiro 2007 (PlusNews) - Enquanto nos países vizinhos da África austral a taxa de infecção pelo HIV já atingiu ou ultrapassou 20 por cento, em Madagáscar a taxa de prevalência em 2005 foi estimada em 0.97 por cento pelo Comitê Nacional de Luta contra a Sida (CNLS).
“Ou a epidemia não teve tempo de se propagar, ou é o comportamento da população que permitiu evitá-la”, disse ao PlusNews o responsável de projetos do CNLS, Minarivolona Andrianasolo.
Se a taxa de seroprevalência é baixa, a da sífilis, por outro lado, é relativamente elevada. Esta doença atinge cerca de quatro por cento das gestantes, chegando a nove por cento em algumas regiões.
Segundo Andrianosolo, isto indica que existem comportamentos sexuais de risco em Madagáscar.
A epidemia do HIV/Sida na ilha é caracterizada pelo fato de ser “invisível, mas de rápido crescimento”, segundo o CNLS.
A seroprevalência ficou estagnada bem abaixo de 0,1 por cento até o ano 2000, para em seguida aumentar rapidamente, o que mostra que o país se encontra em uma fase de transição, passando de uma epidemia concentrada a uma epidemia generalizada.
“Madagáscar é uma ilha e não tem fronteiras diretas com outros países, o que certamente constituiu uma barreira natural contra o vírus”, disse a coordenadora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Sida (Onusida) para Madagáscar, Kaba Setou.
A circuncisão masculina, um costume tradicional, foi também citada como sendo um dos fatores que podem ter limitado a propagação do HIV.
Estudos efetuados recentemente na África do Sul, no Quênia e em Uganda revelaram que a retirada do prepúcio do pênis pode reduzir em até 50 por cento o risco de infecção pelo HIV no homem.
Turismo cresce
Na última década, Madagáscar abriu-se ao turismo. Segundo dados oficiais, o país, que em 2000 recebeu cerca de 170 mil turistas, acolheu quase o dobro em 2006, e espera atingir meio milhão em 2007.
Entretanto, apesar de um setor turístico em expansão, e de uma grande riqueza em recursos naturais, a pobreza em Madagáscar continua sendo endêmica.
Em 2006, num total de 177 países, ela foi classificada em 143° lugar no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas.
Uma das conseqüências desta pobreza é que “o fenômeno da prostituição se acentuou nestes últimos anos. O país parece ter se tornado um destino do turismo sexual”, apontou o Inquérito de Vigilância Comportamental (ESC, na sigla em inglês) 2004, do Instituto Nacional de Estatística.
Ajuda mútua
Madagáscar apresenta várias vantagens, entre elas uma real implicação da sociedade civil e das organizações religiosas, assim como um forte engajamento político sobre a Sida, disse Kaba Setou.
A luta contra a epidemia, cuja responsabilidade era do Ministério da Saúde, foi colocada sob a tutela direta da presidência, por meio do secretariado executivo do CNLS.
Em 2005, o presidente Marc Ravalomanana, sua esposa e uma parte dos membros de seu governo submeteram-se publicamente a um teste de HIV, afim de incitar a população a fazê-lo.
A ilha dispõe de um apoio financeiro importante de seus parceiros internacionais, entre os quais o Banco Mundial e o Fundo Global das Nações Unidas contra o HIV/Sida, Tuberculose e Malária.
Este apoio permitiu o fornecimento gratuito de testes de HIV e de tratamentos antiretrovirais (ARV).
Cem pessoas beneficiam destes tratamentos, mas as autoridades afirmam poder acolher mais pacientes. Segundo as Nações Unidas, 39.000 pessoas em Madagáscar são seropositivas.
De acordo com o CNLS, cada um dos 111 distritos do país dispõe de pelo menos um centro de depistagem voluntária do HIV, e há 15 centros oficiais de distribuição de ARVs.
Todo o cuidado é pouco
No entanto, a ameaça da generalização da epidemia de HIV/Sida que pesa sobre este país de quase 17 milhões de habitantes é real, segundo as autoridades.
Andrianasolo explica que a epidemia ainda está concentrada nos grupos vulneráveis, mas existem várias passarelas entre estes grupos e a população,
“Ainda podemos quebrar a cadeia de transmissão da epidemia, com a condição de que nos concentremos na prevenção do HIV entre os grupos vulneráveis”, disse ao PlusNews.
Estes grupos são os jovens, os trabalhadores do sexo, os homens que mantém relações sexuais com outros homens, os militares e os motoristas de caminhões.
Alguns têm consciência do perigo que correm e do papel que poderiam fazer na transmissão do vírus, segundo especialistas.
As trabalhadoras do sexo mobilizaram-se há vários anos, com resultados encorajadores.
Segundo o ESC 2004, é entre elas que a taxa de utilização do preservativo é mais elevada, sendo às vezes sistemática
A seroprevalência entre as trabalhadoras do sexo se situa em torno de 1,3 por cento, segundo o CNLS, e a sífilis atinge 17 por cento delas.
Segundo o ESC 2004, um terço dos jovens de 15 a 24 anos declararam ter tido a sua primeira relação sexual antes dos 15 anos. Entre eles, cerca de um terço declarou ter múltiplos parceiros, e menos de 30 por cento utilizaram o preservativo ao menos uma vez.
Estas tendências provam que os esforços feitos até agora para limitar a propagação da epidemia devem ser mantidos.
“Não se deve examinar o que aconteceu nestes últimos 15 anos”, resumiu Rasoloarimanana. “O que está em jogo é o que será feito nos próximos 10 anos. É isso que vai determinar se a epidemia vai se propagar em Madagáscar ou não”, finaliza.
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Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento
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[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
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