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Coração de mãe
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Novembro 2007 (PlusNews) |
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Photo: Voices of Positive Women  |
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MAPUTO, Bela e Rita
Minha filha ainda não sabe que é seropositiva por ser muito criança e acho que não seria bom para ela. Ela tem apenas seis anos.
Nas manhãs, antes de ir à escola, ela costuma perguntar-me por que tem que tomar os mesmos comprimidos todos os dias. Eu digo-lhe sempre que é para ficar bem saudável.
Tenho presenciado atitudes preconceituosas contra ela, mas nada posso fazer porque ninguém nos protege.
Por causa da discriminação, a miúda não pode visitar os tios ou tomar água no mesmo copo que outras crianças porque pensam que ela pode transmitir o HIV. Meus irmãos só ligam para saber se estamos vivas, mas nunca nos visitam.
Ela brinca com as crianças da vizinhança e gosta de ver televisão, principalmente desenhos animados. Mesmo assim, ela sofre discriminação porque às vezes volta a chorar, dizendo que outras crianças gritam que ela tem Sida.
Eu digo que é apenas brincadeira. É um assunto que me perturba muito, mas não posso fazer nada. Ela é discriminada até pelos familiares do pai, que não querem vê-la desde que ele morreu de tuberculose, em 2002.
Quando ele morreu, fui aconselhada por uma prima enfermeira a fazer os testes de HIV no hospital de Chamaculo, na Cidade de Maputo. Rita*, que tinha dois anos, tinha tosses constantes, anemia e não tinha mais cabelos. Ela também fez o teste.
Os dois voltaram positivos.
No dia que tive meus resultados chorei muito. Mal dormia, porque pensava que não acordaria no dia seguinte. Para mim, era como se fosse fim do mundo. Mas com aconselhamentos fiquei sabendo que o HIV era normal.
Rita estava tão debilitada que começou a tomar antiretrovirais imediatamente.
Costumo ignorar os que nos discriminam. Fui abandonada por meus familiares no primeiro dia do tratamento, quando tive que levar minha mãe e meu irmão à GATV para aconselhamentos. Logo que saímos de lá, eles me abandonaram e fui para casa sozinha. Hoje visito só outras seropositivas como eu.
Eu tinha um namorado seronegativo que me ajudava muito com alimentos e dinheiro, mas por causa da discriminação, os pais dele vieram buscá-lo sem minha presença, alegando que eu posso transmitir-lhe HIV. Até agora não sei onde ele está.
Contudo, temos recebido ajuda espiritual da igreja presbiteriana.
Minha filha está a estudar bem, mas soneca muito na sala de aulas porque a medicação que toma é muito forte para a idade dela. Mas fui buscar o boletim dela na escola ontem e ela passou o ano.
Ela também tem peso abaixo do normal por falta de comida. O médico aconselhou-me a fazer um esforço para garantir a alimentação básica. Ultimamente ela anda tão fraca que muitas vezes temos que buscá-la na escola porque ela não consegue andar.
Tenho muitos sonhos. Gostaria de ter um emprego e fazer tudo de bom para minhas duas filhas. A menor tem dois anos e quatro meses e é seronegativa. Gostaria de construir uma casa e ter uma conta bancária para elas.
* Nome fictício para proteger a criança
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[FIM]
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[Os depoimentos acima foram obtidos pela IRIN, um serviço de notícias humanitárias, mas não necessariamente refletem a opinião das Nações Unidas.]
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