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MOÇAMBIQUE: Sem alimentos, seropositivos abandonam ARVs


Photo: Lilian Liang/PlusNews
Falta de alimentos é uma das principais causas para desistência do tratamento
BEIRA, 27 Abril 2009 (PlusNews) - A falta de alimentação adequada foi a principal causa para que mais de metade dos pacientes seropositivos em tratamento antiretroviral (ARV) na província de Sofala desistissem do tratamento em 2008.

Dados oficiais indicam que cerca 4.353 dos 7.709, abandonaram o tratamento no ano passado – o equivalente a 56,4 por cento. Em 2007, o índice de desistência foi de 12,6 por cento.

Lara Cristina Samuel, gestora adjunta de programa de HIV e SIDA na Direcção Provincial da Saúde (DPS) em Sofala, destacou que a má nutrição foi a principal causa para tais desistências.

Segundo ela,a constatação vem de “uma análise empírica no terreno com os doentes”. Não foi feito nenhum estudo sobre o caso.

“O tratamento ARV é muito pesado e exige uma boa alimentação. A maior parte dos seropositivos não tem condições financeiras para uma cesta básica adequada”, explica. “Com os efeitos colaterais, muitos concluem que os ARVs não são eficazes e desistem.”

Para amenizar a situação, o Programa Alimentar Mundial (PAM) doa mensalmente uma cesta básica com 50 quilos de arroz ou milho, 10 quilos de soja e seis quilos de legumes.

Qualificam-se para o benefício seropositivos que iniciaram o tratamento e perderam 10 quilos nos primeiros meses. Depois de noventa dias o paciente é reavaliado: se houve recuperação, o benefício é suspenso; caso contrário, a pessoa continua a receber a cesta.

Segundo Samuel, houve poucas desistências ao tratamento ARV em 2007 devido ao forte apoio alimentar de organizações não-governamentais.

Em 2008, esse apoio diminuiu. As cheias e inundações, no final de 2007 e início de 2008, nas regiões dos rio Zambeze, Save e Buzi pioraram ainda mais a situação ao desalojar milhares de moçambicanos e destruir plantações. Com isso, os alimentos originalmente destinados aos seropositivos desfavorecidos foram direccionados às vítimas das cheias.

Samuel ressaltou ainda que muitos doentes que recebem a cesta básica abandonam a terapia, porque não sabem gerir o que recebem ou porque vendem os produtos.

“Se houvesse um mecanismo melhor de racionalização dos alimentos, acho que a maior parte dos problemas de fome seriam resolvidos”, observou Samuel.

Para capacitar os pacientes nesse sentido, a Direcção Provincial de Saúde está a desenvolver acções para que os activistas ensinem durante as suas palestras como melhor aproveitar os alimentos e como manter uma dieta balanceada e variada.

Faca de dois gumes

''Eu sempre vendia uma pequena quantidade dos produtos que recebia para conseguir dinheiro para pagar a renda da casa e comprar caril''
O auxílio do PAM foi o principal responsável pela adesão de Joana Ndarambwa, 43 anos, ao tratamento ARV. Mas o período limitado do benefício acabou por trazer mais problemas do que soluções.

Ndarambwa é viúva. Actualmente desempregada, ela vive com dois de seus quatro filhos e cuida de três netos, órfãos de pai e mãe. O seu neto mais novo, de dois anos, também é seropositivo.

Ela começou com os ARVs em Agosto de 2007, logo após o diagnóstico. Por apresentarem-se em situação clínica crítica, ela e o neto qualificaram-se para receber uma cesta básica mensal, por três meses, do PAM.

“Eu sempre vendia uma pequena quantidade dos produtos que recebia para conseguir dinheiro para pagar a renda de casa e comprar caril”, contou Ndarambwa.

Seis meses depois, a jovem senhora havia melhorado a olhos vistos. A boa notícia, no entanto, veio acompanhada de uma não tão boa: com a recuperação, a cesta básica foi suspensa.

Sem o benefício, a comida escasseou e foram necessários só dois meses para que Ndarambwa abandonasse o tratamento ARV, devido às vertigens e fadiga.

Em 2009, porém, graças ao apoio psicológico e alimentar que passou a receber da Associação Juvenil de Desenvolvimento Comunitário Kugarissica (bem-estar, na língua Ndau), ela está novamente em tratamento ARV.

A província de Sofala tem uma seroprevalência de 26 por cento, uma das mais altas de Moçambique, cujo índice nacional é de 16 por cento.

Novos esforços

Para evitar outros casos como de Ndarambwa, as autoridades sanitárias de Sofala pretendem envolver mais organizações voltadas para seropositivos para aconselhá-los a não abandonar os ARVs, por falta de alimentação.

“Junto com grupos que trabalham com seropositivos que se recuperaram, estamos a incentivar que esses pacientes façam machambas ou hortas com ajuda de seus familiares, para que tenham comida para fazer face à reacção dos ARVs”, disse.

A Aliança de Saúde Internacional (HAI, em inglês), ONG norte-americana voltada para a área de HIV e SIDA em Moçambique, também começará a trabalhar com grupos criados pela DPS, financiando projectos de geração de rendimentos. Os lucros serão destinados à compra de suplementos alimentares.

Segundo Samuel, outras ONGs estrangeiras manifestaram a intenção de fazer o mesmo, mas receiam que os fundos sejam geridos incorrectamente, já que muitas associações se desfazem depois de receberem fundos do Núcleo Provincial de Combate à SIDA.

“O que vamos fazer este ano é incutir a ideia de associativismo nestes grupos sociais, para que amanhã não sejamos dependentes dos parceiros, pois a qualquer momento eles podem deixar de injectar fundos”, observou.

jc/am/ll


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) PVHS/ONGs

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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