SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE: Mais comida, melhor tratamento
SÃO TOMÉ, 16 Abril 2009 (PlusNews) - Em tempos de crise e preços de alimentos cada vez mais altos, a ração do Programa Alimentar Mundial (PAM) está a desempenhar um papel fundamental para que os seropositivos continuem o tratamento antiretroviral.
O acordo entre o PAM e o governo são-tomense já existe há dois anos e é considerado pelas autoridades sanitárias uma parceria estratégica na resposta ao HIV.
Segundo o Programa Nacional de Luta Contra SIDA (PNLS) existem 108 pacientes em tratamento ARV no país, dos quais 98 recebem apoio do PAM.
A seroprevalência nesse arquipélago na costa do Gabão é de 1,5 por cento para uma população de 154 mil habitantes.
“Nós vimos que só fazendo o tratamento ARV seria insuficiente para recuperar, era preciso que os doentes recebessem alimentos com suplemento protéico para superar os efeitos dos comprimidos”, disse Bonifácio Sousa, responsável pelo departamento clínico do PNLS.
O apoio recebido pelos seropositivos consiste numa cesta básica mensal, que inclui 60 quilos de arroz, nove quilos de feijão, 4,5 litros de óleo alimentar e 700 gramas de sal.
Segundo Domingos Cunha, encarregado dos escritórios do PAM em São Tomé e Príncipe, os pacientes recebem alimentos para uma família de cinco membros.
A previsão em 2007 era de 105 beneficiários directos para 94 toneladas de ração. Em 2008 esse número subiu para 120 beneficiários e 107 toneladas de comida.
"2009 é o ano com maior taxa de aderência até agora - 98 beneficiários contra os 135 previstos para 120 toneladas de alimentos disponíveis", disse Cunha.
Segundo Celso Amorim*, 25 anos, estudante do segundo ano de direito no Instituto Universitário de Contabilidade e Administração, o apoio alimentar é uma grande ajuda para ele e sua família.
“Em alguns casos, vendo parte da ração para comprar material escolar e bolos na cantina da escola, porque sinto muita fome depois de tomar os comprimidos”, disse Amorim.
Sousa destacou que, desde que o PNLS passou a distribuir alimentos, através da Cruz Vermelha, muitos seropositivos aderiram aos ARVs.
“Muitos perderam o emprego devido à doença, tornaram-se improdutivos. Quando tomam os antiretrovirais precisam alimentar-se bem, porque os comprimidos dão muita fome”, destacou.
A doação de alimentos é parte do projecto de Apoio à Educação de Base e ao Sistema de Saúde em Benefício dos Grupos Vulneráveis, implementado pelo governo e financiado pelo PAM.
São Tomé e Príncipe começou a tratar doentes de SIDA com ARVs, em 2005, com apoio do Brasil no âmbito da cooperação bilateral.
Insegurança alimentar
Um estudo de 2007 do Instituto Nacional de Estatística, apoiado pelo PAM, mostrou que 36 mil pessoas enfrentam insegurança alimentar em São Tomé e Príncipe. A maioria dos respondentes classificaram as suas refeições como pobres, sendo o tubérculo matabala, banana, peixe, arroz e feijão os alimentos mais consumidos.
Segundo a pesquisa, a seca que assolou o arquipélago no início da década de 1980, juntamente com as pragas e a alta incidência do sol, tornou os terrenos improdutivos, causando uma diminuição drástica da produção agrícola.
“Foi um momento difícil, porque o país não dispunha de dinheiro para importar comida para a população”, disse Américo Rocha, director da agricultura do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas.
A insegurança alimentar continua até hoje, mas segundo o ministro da agricultura Xavier Mendes, o governo pretende implementar medidas para melhorar a situação no país.
“Vamos reforçar políticas de segurança alimentar com projectos mais voltados para nutrição, como a criação de galinhas poedeiras, bois e cabras”, disse Mendes.
Além disso, 20 por cento dos US$ 150 milhões de dólares do orçamento geral do Estado para 2009 serão dedicados à revitalização do sector da agricultura e aumento da sua produção nacional. A produção para consumo interno é pequena e se resume a banana, matabala e milho. O cacau é o único produto para a exportação.
Em Fevereiro, o governo iniciou a distribuição de insumos agrícolas e sementes aos agricultores e horticultores. Foram beneficiados 300 agricultores com experiência em culturas secas - milho, feijão batata, mandioca - e hortícolas nas zonas centro e sul do país.
*nome fictício
rg/am/ll
|