QUÉNIA: Seropositivo e ainda sexy

Photo: Zanzibar International Film Festival  |
"Você pode ter sua sexualidade... não precisa perdê-la porque tem o HIV" |
MOMBASA, 29 Novembro 2007 (PlusNews) - As pessoas tendem a pensar que contrair HIV significa o fim da sua vida sexual, mas africanos seropositivos de todas as idades são agora instados a recuperar a sua sexualidade e a viver vidas saudáveis e normais.
“Eu apanhei isto [HIV] através de sexo, então [eu pensei que] a minha sexualidade tinha se ido e senti que precisava deixar de me vestir atractivamente e esperar para morrer”, disse Florence Anam, de 28 anos, oficial de informação na Rede Queniana de Mulheres com Sida.
Anam disse que quando revelou que era seropositiva pela primeira vez, muitos homens a evitavam, acreditando que ela queria infectá-los. Ela mesma não teve interesse no sexo vários meses depois de ser diagnosticada. Contudo, depois descobriu que pode continuar a ter e a aproveitar o sexo, apesar de ser seropositiva.
“Minha percepção é que você pode ter sua sexualidade…não precisa perdê-la por ter HIV, tem é só que ser responsável”, disse ela, acrescentando que sexo “tem que ser bom, senão é melhor não fazer”.
Condição moralizada
Num workshop recente organizado pelo Centro Regional Africano de Recursos de Sexualidade (ARSRC, em inglês), no seu Instituto de Sexualidade na cidade costeira queniana de Mombasa, discutiu-se a necessidade de se repensar a sexualidade no contexto de doença, particularmente infecções crónicas como o HIV.
“O HIV é uma condição altamente moralizada. As pessoas são estigmatizadas porque são vistas pela sociedade como tendo sido sexualmente imorais”, disse Richmond Tiemoko, director do ARSRC.
“As mulheres são particularmente afectadas por este tipo de estigma porque espera-se que elas sejam a guardiãs da moral da sociedade, de modo que, contrair HIV é visto como um grande fracasso da parte delas”, continuou.
Eu sou um ser humano com necessidades sexuais e sentimentos, que precisam ser satisfeitos sem que eu tenha que me desculpar para ninguém. |
Para ele, é importante que os seropositivos reconheçam e exijam seu direito à sexualidade e relações sexuais.
O Instituto de Sexualidade proporciona um fórum para os profissionais de saúde africanos discutirem maneiras de promover atitudes mais positivas em relação à sexualidade na região.
”Acreditamos que para reduzir o HIV e promover o bem-estar, precisamos adoptar um discurso positivo sobre sexo e sexualidade,”, disse Tiemoko. “Discutir assuntos de sexualidade e violência sexual, estigma, auto-estima e HIV permite que as pessoas tenham uma melhor compreensão das ligações destes aspectos com a sexualidade e os tornem menos tabu”.
O workshop teve a participação de pesquisadores, funcionários governamentais e representantes de organizações não-governamentais com foco em saúde reprodutiva ou Sida. Eles foram encorajados a incorporar mensagens sobre sexualidade saudável nos seus programas para pessoas vivendo com o HIV.
“Quando fui diagnosticada, considerei sexo como algo sujo e culpei-o pela minha sorte,” disse Assunta Wagura, directora executiva da Rede Queniana de Mulheres com Sida numa recente entrevista para a revista Sexualidade em África, uma publicação da ARSRC.
“Eu suprimi esta necessidade durante muito tempo, até não poder mais e declarei abertamente, ‘Eu sou um ser humano com necessidades sexuais e sentimentos, que precisam ser satisfeitos sem que eu tenha que me desculpar para ninguém’”, disse.
Wagura, que declarou publicamente sua seropositividade, causou controvérsia quando decidiu ter um filho em 2006. Seu filho nasceu saudável e até agora testou negativo para HIV.
“Fui criticada por todos os lados…a idéia era que pessoas vivendo com o HIV/SIDA não deviam pensar desta maneira, porque ter um filho envolve relações sexuais,” disse.
Falando no workshop, Sylvia Tamale, decana de Direito na Universidade de Makerere, em Uganda, disse que havia uma “diferença” entre sexo no contexto médico ou de saúde e sexo num contexto de prazer.
”Há necessidade de ‘desaprender’ e refinar algumas das lições que a sociedade nos ensina, e abrir as mentes das pessoas”, disse ela, acrescentando que aconselhamento sobre sexualidade pode ajudar muito a mudar estas percepções.
O ARSRC organiza workshops rotativos todos os anos no Egipto, Quénia, Nigéria e África do Sul. O workshop de Mombasa foi organizado juntamente com sua parceira no Quénia, a Population Council, uma organização não-governamental internacional de saúde reprodutiva.
|
Tema(s): (IRIN) PVHS/ONGs, (IRIN) Estigma/Direitos Humanos/Leis
[FIM] |
[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas] |
|
|
|
Países |
|
|
|