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ÁFRICA: O fio da navalha – circuncisão masculina e HIV


Photo: Anthony Kaminju/PlusNews
Ritos tradicionais têm muito mais significado que a simples remoção do prepúcio.
JOHANNESBURG, 14 Agosto 2007 (PlusNews) - A circuncisão masculina é a grande novidade na prevenção do HIV ou será um experimento social arriscado que ameaça desviar fundos de intervenções tentadas e testadas?

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Sida (Onusida) é cauteloso em sua avaliação.

“Sem dúvida, temos que garantir de todas as formas que homens e mulheres tenham consciência de que a circuncisão masculina não é uma ‘solução instantânea’. Ela não dá total proteção e não significa que as pessoas podem abandonar as precauções de sexo seguro que vinham utilizando.”

A precaução é a resposta ao entusiasmo – e debate – disparado pelos resultados de três estudos randomizados na África do Sul, Quénia e Uganda em 2005 e 2006, que pareciam demonstrar que a circuncisão reduzia entre 50 e 60 por cento o risco de infecção pelo HIV entre homens.

Seguindo o lento e árduo trabalho de divulgação de mensagens sobre mudança de comportamento, aqui estava um procedimento médico simples – já largamente aceito em muitas culturas africanas – que podia ter um impacto significativo na infecção pelo HIV.

Uma ampla frente de agências da Nações Unidas, doadores-chave baseados nos Estados Unidos e, recentemente, ministros africanos da saúde, têm apoiado os esforços para tornar o prepúcio uma história do passado.

Discordâncias

Mas existem vozes discordantes entre cientistas sociais e pesquisadores. Eles argumentam que não existem evidências irrefutáveis suficientes para apressar uma circuncisão em massa (ainda nem se sabe ao certo como o prepúcio aumenta o risco de infecção pelo HIV); e por que na África do Sul, por exemplo, parece não haver nenhuma diferença significativa na seroprevalência entre as comunidades que circuncisam e aquelas que não o fazem?

Frustração em relação à lentidão nos progressos nos programas de Sida ortodoxos tem resultado em “um desespero para encontrar algo que funcione, com crescentes lobbies para intervenção biomédica”, disse Peter Aggleton, pesquisador da Universidade de Londres. “Envolve a elaboração de uma agenda que diz ser baseada em evidências, mas que ainda não tem júri.”

O perigo de os homens enxergarem a circuncisão como uma solução rápida, ignorando os apelos de saúde pública quanto ao uso do preservativo e à redução do número de parceiros, é reconhecida pelas duas partes do debate.

Mas os que discordam questionam por quê arriscar qualquer potencial diluição da mensagem do látex, afinal, além de ter sido uma grande batalha convencer os homens a usar preservativos, eles oferecem cerca de 90 por cento de proteção.

Para Richard Delate, director de comunicações do programa sul-africano de educação e saúde da Universidade Johns Hopkins, a circuncisão é simplesmente um método adicional de prevenção.

“Mas precisamos dar uma escolha aos homens… e a circuncisão dá um ponto de entrada para que os homens falem de seus pénis no contexto da saúde sexual e reprodutiva”, disse.

Apesar de quase 25 anos de programas de conscientização sobre a Sida, o uso consistente do preservativo continua frustrantemente baixo, observou ele.

Mas a circuncisão não é simplesmente um procedimento médico ou cosmético – , ela está carregada de significado relacionado a identidade e masculinidade.

''No final, tudo se resume a dinheiro. A circuncisão acrescenta uma nova opção de proteção contra o HIV, mas os serviços de saúde na África já estão sobrecarregados.''
Cientistas sociais, que se sentem marginalizados no debate, argumentam que a circuncisão também é profundamente política, servindo como uma marca de status, poder e diferenciação social.

Mudanças culturais

Será que uma campanha massiva pode funcionar entre homens em sociedades etnicamente misturadas, onde prepúcios – ou sua ausência – são sinónimos de parentesco, cultura e, quase inevitavelmente, machismo?

Delate é claro ao afirmar que a cultura pode mudar: os Zulus na África do Sul, que costumavam ser circuncisados, obedeceram a um decreto do Rei Shaka, no século 19 e abandonaram a prática.

“Precisamos trabalhar com as estruturas tradicionais para explicar a eles não somente a circuncisão, mas também sobre o HIV em geral”, disse.

Nas sociedades que praticam a circuncisão, os ritos tradicionais são imbuídos de muito mais significado do que a simples remoção do prepúcio: é uma iniciação à vida adulta, em que códigos culturais e de comportamento são passados, e que também pode ajudar na prevenção do HIV.

O norte da Zâmbia, onde a circuncisão é a norma, tem a mais baixa seroprevalência do país. Mas segundo Mutamba Simapuka, do Hospital Militar de Maina Soko, na capital Lusaka, os benefícios protectores são mais do que biomédicos; os jovens também recebem lições sobre fidelidade nas relações sexuais.

Quando os homens do norte migram para Lusaka, com seus códigos sexuais mais livres, “suas seroprevalências se igualam às da população local”, disse Simapuka ao IRIN/PlusNews.

Contudo, os métodos tradicionais de circuncisão não são os mais seguros – afinal, a idéia é que os iniciados provem sua coragem e resistência.

As questões de consentimento também são problemáticas.

“Para garantir operações limpas e seguras, a circuncisão masculina deveria apenas ser feita por profissionais bem treinados em ambientes sanitários, em condições de consentimento informado, confidencialidade, aconselhamento apropriado e segurança”, é o conselho politicamente correcto do Onusida.

No final, tudo se resume a dinheiro. A circuncisão acrescenta uma nova opção de proteção contra o HIV, mas os serviços de saúde na África já estão sobrecarregados, com poucos recursos e lutando para oferecer os cuidados mais básicos. Será que a circuncisão deveria ser acrescentada a esse pacote?

Uma preocupação entre os dissidentes é a de que novos financiamentos podem ser apresentados aos governos para promover a adoção da circuncisão.

A preocupação contrária é a de que não haverá dinheiro suficiente. “Teremos que considerar outras fontes de recursos para aumentar a capacidade dos sistemas de saúde”, disse Delate.


Tema(s): (IRIN) Cuidados/Tratamento, (IRIN) Gênero, (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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