África English Français Subscrição IRIN Mapa do Sítio
PlusNews
Notícias e análises sobre HIV e Sida
Pesquisa avançada
 terça-feira 26 Fevereiro 2008
 
Página inicial 
África 
CPLP 
Compacto Semanal 
Reportagem aprofundada 
Eventos 
Empregos 
Really Simple Syndication Feed 
Acerca do PlusNews 
Doadores 
Contacto 
 
 
Versão impressa
Da heroína ao HIV
Fevereiro 2008 (PlusNews)

Photo: Lilian Liang/PlusNews
Ailton Lima
SÃO VICENTE, CABO VERDE,
Ailton Lopes Lima

Comecei a usar drogas leves aos 16 anos, principalmente maconha. Dois anos depois, passei a usar drogas pesadas, mas não injectadas. Eu cheirava a cocaína e fumava a heroína.

Depois eu e meus colegas passamos a injectar. Houve uma época em que eu estava injectando até no pescoço.

Quando as seringas estavam um pouco velhas eu compartilhava a agulha. Eu acho que foi assim que me infectei, porque sei de outras pessoas que foram infectadas assim, apesar de nunca ser possível saber ao certo.

Naquela época havia pouca informação sobre HIV em Cabo Verde. Nós ouvíamos um ou outro estrangeiro falar sobre o assunto, mas eu não sabia de nada. Mesmo em relação a preservativos havia pouca informação. Hoje as pessoas usam muito mais.

Acho que fui o primeiro do meu grupo a ser diagnosticado. Descobri que era seropositivo em 2003. Eu já tinha uma certa desconfiança por ser usuário de drogas injectáveis. Fui a um serviço de psiquiatria na ilha de São Vicente, onde eles me propuseram fazer o teste de HIV.

O resultado voltou positivo. Eu tinha 25 anos na época.

Fui para Praia, capital de Cabo Verde, na ilha de Santiago, procurar tratamento para desintoxicação e quando voltei, alguns amigos tinham parado de consumir drogas. Alguns descobriram estar infectados também. Eu tinha um tio que consumia comigo que morreu de SIDA.

Nesse período em Praia eu fui para as Tendas El-Shaddai, que é um centro de rehabilitação, mas consegui ficar só uma semana, porque acho que ainda não estava preparado. Quando voltei a São Vicente, recaí.

Acabei voltando para as Tendas no início de 2007. Reconheci onde foram as falhas e retomei o tratamento. Lá a proposta tem a ver com a espiritualidade e a vontade de se livrar das drogas. Fiquei 10 meses e não recaí mais.

Ainda não preciso tomar antiretrovirais. Espero continuar assim.

O que é pior: as drogas ou o vírus?

Acho que a seropositividade é um problema maior que as drogas porque não tem cura. Muitos toxicodependentes conseguiram tratamento e hoje vivem longe das drogas. Mas você nunca vai viver livre do HIV.

Muitos seropositivos têm medo de dizer a amigos, família, vizinhos, mas eu não os julgo. Eu sei que é difícil lidar com pessoas apontando o dedo para você, dizendo que você vai morrer em alguns dias.

A sociedade ainda pensa que só drogados, prostitutas e homossexuais têm HIV. Mas um mês atrás eu encontrei uma moça que era testemunha de Jeová e seropositiva. Ela era casada e foi infectada pelo marido. Isso prova que qualquer um pode ter o HIV.

Para conseguir um trabalho, se você for um toxicodependente, as pessoas podem dizer “Ele conseguiu tratamento, podemos dar uma oportunidade”. Mas com a doença é sempre mais difícil, porque em pleno ano de 2008 muitos ainda vêem a SIDA de forma errada. Isso é o que dá mais medo.

Eu não penso que é por falta de informação. Se essa fosse a única doença mortal que existisse, daria para entender. Mas existem outras que se transmitem de uma forma muito mais fácil, mas ainda continuamos com esses tabus.

Foi por causa de emprego que eu voltei a São Vicente. Quase consegui um emprego num hotel, mas não deu certo. Não sei se porque eu era toxicodependente ou se porque sou seropositivo.

Também tentei abrir uma loja de artesanato em Praia, mas estava complicado. Voltei para casa para sentir um pouco de estabilidade emocional, porque as coisas não estavam fáceis longe da família.

Gostaria de ser activista, mas não dá para ser activista sem ter como se sustentar. Quero ajudar as pessoas. Nas comemorações dei uma entrevista na TV sobre minha condição e sei que algumas pessoas ganharam um pouco mais de ânimo para viver. Eu gostaria de dar continuidade a isso, mas não está sendo fácil.

[FIM]

[Os depoimentos acima foram obtidos pela IRIN, um serviço de notícias humanitárias, mas não necessariamente refletem a opinião das Nações Unidas.]

A IRIN aceita envios de textos e fotografias para esta página, mas reserva o direito de selecionar e editar conforme considerar apropriado.
Versão impressa
Share:
Retroceder | Página inicial

Serviços:  África | Rádio | Filme & TV | Foto | Subscrição
Contacto · E-mail Webmaster · Termos e Condições · Feed de Notícias Feed de Notícias · Acerca do PlusNews · Adicionar aos favoritos · Doadores

Direitos Autorais © IRIN 2008. Todos os direitos reservados.
Este material chega até você via IRIN, o serviço de notícias e análises humanitárias do Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. As opiniões expressadas aqui não reflectem necessariamente a opinião da ONU ou dos Estados Membros. A republicação está sujeita aos termos e condições determinadas na página do copyright IRIN.