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Céu Marques
Julho 2006 (PlusNews)

Photo: Lilas Orlov/PlusNews
Mãe....
LUANDA, O meu marido sabia que era seropositivo e não me disse nada...

Caiu-me o céu quando a médica disse-me: "Céu, o teu teste é positivo". Era Dezembro do ano passado. Dois meses de broncopneumonia deixaram-me pesando 27 quilos e pedi no centro médico da Rádio Nacional de Angola, onde trabalho como jornalista, para fazer o teste de HIV.

O pior estava a vir. Levei as minhas quatro filhas a fazer o teste. A caçula, de nove anos, é seropositiva.

Chamei o seu pai, do qual estou separada há vários anos, e que trabalha noutra província. As minhas outras filhas são de outro relacionamento. Demorou a chegar, mas apareceu. Conversamos. Convidei-lhe a fazer o teste. Ele apenas respondeu: "Agora que você sabe, é só fazer o tratamento". Contou que já faz tratamento, há alguns anos, na África do Sul. E nunca me disse nada.

A nossa relação durou onze anos. Separamo-nos sem problema algum e só hoje entendo o porque. Tivemos outro filho, que morreu com um diagnóstico indeterminado. Seria Sida?

Acho que o meu ex-companheiro não me avisou por vergonha, egoísmo, orgulho, sei lá… Se nós partilhamos uma vida durante anos, é chocante vir a saber que o meu parceiro me escondeu a sua condição. Considero esta traição como a mais baixa. Afinal já não conhecemos ninguém.

O que ele fez é condenável. A primeira mulher, que faleceu há alguns anos, só agora se sabe que morreu com Sida. Neste momento, quatro filhos dele estão infectados com o HIV. É muito triste.

Desesperada, recorri à amigos. Recebi muito apoio e coragem. Tenho gerido a situação, tenho mais cuidados comigo, mudei de turno na Rádio Nacional. Hoje, sou uma mulher lutadora. Enquanto estiver viva, quero dar o melhor aos meus filhos, mas sempre de cabeça erguida.

O mais doloroso para uma mãe

Vivo com as minhas quatro filhas e dois órfãos de guerra que adoptei. A minha mãe já é uma pessoa de idade avançada, é comigo que ela tem contado quer na alimentação, como na saúde. É um triplo drama que carrego neste calvário.


Photo: Lilas Orlov/PlusNews
... e filha: juntas de cabeça erguida
O mais doloroso para uma mãe é saber que tem uma filha seropositiva. Só Deus sabe o que está dentro de mim. Um sentimento de culpa por saber que foi transmitido no meu ventre, mas convicta que não foi intencional, porque não sabia da minha condição, nem a do meu companheiro.

A minha filha, para além de ser seropositiva, tem um problema de coração e tem crises constantes. Alguns exames não são feitos no país e se fazem são caríssimos. Infelizmente, até hoje ainda não pude fazer o tratamento disso por falta de dinheiro. Por isso, pode ver como me sinto. O que fazer?

Tem sido muito difícil da minha parte, não que tenha ódio do meu ex-compaheiro...quem sou eu para o condenar, mas é uma dor muito grande que carrego sempre que imagino o quanto ele foi cruel até com a própria filha.

Diga-me com sinceridade, o que merece um pai que contamina o seu filho e quase o deixa morrer? Esta pergunta tem me martelado muito a cabeça, sem contudo encontrar resposta.

O que me levou a assumir publicamente a minha condição é que, ao darmos a cara, ajudamos a todos que se encontram na nossa situação. É também uma forma de acabar com discriminação e passarem a ver-nos como cidadãos normais deste país, que coabitam com uma doença que poderia ser diabete ou cancro.

Sempre acreditei na Sida, porque é uma doença que existe, e tive dois irmãos que morreram com ela, além de outras pessoas queridas. Mas, apesar da coragem que tive em fazer o teste, o impacto que tive ao receber a confirmação foi doloroso.

O mais importante para mim é poder continuar a contar com as pessoas que me estenderam a mão na primeira hora, fazer tudo que estiver ao meu alcance para que nunca faltem medicamentos e alimentação, principalmente para a minha filha seropositiva, e que Deus continue a me dar força e coragem.

[FIM]

[Os depoimentos acima foram obtidos pela IRIN, um serviço de notícias humanitárias, mas não necessariamente refletem a opinião das Nações Unidas.]

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Este material chega até você via IRIN, o serviço de notícias e análises humanitárias do Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. As opiniões expressadas aqui não reflectem necessariamente a opinião da ONU ou dos Estados Membros. A republicação está sujeita aos termos e condições determinadas na página do copyright IRIN.