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CAMARÕES: Seios "passados" não protegem as raparigas de HIV/Sida


Photo: Sylvia Spring/IRIN
"Passar" os seios das meninas é inútil e doloroso
YAOUNDE, 27 Junho 2006 (PlusNews) - Activistas camaroneses iniciaram uma campanha para quebrar o silêncio sobre o hábito de “passar” os seios das raparigas, que segundo uma crença protege-as do olhar dos homens.

O objectivo é alertar a população, em particular os homens, que ignoram o fenômeno, sobre os seus riscos. A iniciativa é da Agência de Cooperação Alemã - GTZ e Réseau National des Associations de Tantines (Renata), que ajuda as mães adolescentes.

Mesmo sendo comum nos camarões, a prática de "passar" os seios é raramente abordada em público.

Esta prática, feita “entre mulheres na cozinha”, consiste em massagear os seios nascentes das meninas para fazê-los desaparecer, geralmente com uma pedra, um pilão ou uma espátula esquentados sobre brasas.

Segundo uma pesquisa feita pela GTZ, 24 por cento das meninas camaronesas, e até 53 por cento delas na província de Littoral, no sudoeste do país, onde fica situado Douala, um grande centro econômico, confessaram ter sido submetidas a esta prática.

Esta pesquisa também revela que 3,8 milhões de adolescentes seriam ameaçadas pelo fenômeno.

Dolorosa e ineficaz

Para Flavien Ndonko, antropólogo do programa de saúde e HIV/Sida da GTZ, esta mutilação dolorosa pode não somente ter consequências sobre a saúde física (cancro dos seios) e psicológica (depressão) das meninas, mas também se revela ineficaz.

O objectivo inicial desta prática é fazer desaparecer os primeiros sinais da feminilidade nas meninas para “protegê-las do olhar dos homens”.

“Muitas raparigas da Renata, que são mães solteiras, dizem ter sido submetidas ao “passar”, o que demonstra que esta prática não funciona [para prevenir gravidezes precoces] e que ela significa um trauma inútil a que estas meninas são submetidas”, deplora Ndonko.

A rede Renata faz a mesma constatação. E para ela, a sexualidade precoce das adolescentes é “um problema muito grave”, num país onde a taxa de infecção pelo HIV/Sida é de 5.4 por cento, segundo as estimativas das Nações Unidas.

Um terço dentre os 20 a 30 por cento de meninas camaronesas que apresentam uma gravidez indesejada tem entre 13 e 25 anos. Para mais da metade delas, essa gravidez aconteceu logo na primeira relação sexual, nota a GTZ.

Silêncio sobre a sexualidade

Segundo a GTZ e Renata, o problema fundamental de “passar” os seios está ligado à ausência de diálogo e de educação sobre a sexualidade nas famílias.

“Para os pais, é muito difícil falar de sexualidade, por pudor ou por motivos culturais”, diz Ndonko.

Considerando que ignorância das meninas em matéria de sexualidade tem consequências sobre a capacidade delas se protegerem contra o HIV, a rede Renata decidiu sensibiliza-las sistematicamente sobre os perigos da epidemia, declara a secretária executiva da rede, Bessem Arrey Ebanga Bisong.

“Nós constatamos que muitas adolescentes não sabem nada sobre o HIV/Sida. É preciso muito tempo para explicar-lhes”, diz.

“Nas sessões de sensibilização que os nossos membros conduzem junto às meninas das suas comunidades, fala-se de puberdade, de higiene corporal, e, é claro, sempre do HIV/Sida”, acrescenta Bisong.

Ventos de mudança

A reticência em falar sobre a sexualidade com as crianças explica a decisão de uma mãe, que preferiu o anonimato, de “passar” os seios das suas filhas.

“Não é uma boa solução ‘passar’. Foi por ignorância que eu submeti as minhas duas primeiras filhas. O que devo fazer agora com a terceira? Os jovens de hoje são tão emancipados, eles não tem limites“, diz esta mãe.

Ela conta que uma vizinha propôs uma solução: “é preciso conversar com ela [minha filha], ensinar-lhe o que é a sexualidade. Nós não temos diálogo suficiente com os nossos filhos, nós não temos coragem. Portanto, é preciso explicar-lhes as coisas para que eles, quando agirem, saibam o que estão fazendo”

Pouco tempo após o seu lançamento, a campanha de sensibilização sobre os seios "passados" parece já provocar reacções, diz, contente, Ndonko.

“Hoje, nos taxis, fala-se disso, naturalmente, quando antes era um assunto de que só se falava entre mulheres”, observa.

Ndonko é optimista: “esta é uma boa maneira de resolver o problema. As pessoas falam sobre ele e se perguntam ‘porque o fazemos’? E como não há nenhum motivo que o justifique, perceberão que se trata de uma prática inútil e acabarão deixando-a de lado”.


Tema(s): (IRIN) , (IRIN) Prevenção

[FIM]

[Este boletim não reflecte necessariamente as opiniões das Nações Unidas]
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